XXIV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano - XXIV EBCF

V Encontro TyA Brasil 

REDE DE TOXICOMANIA EALCOOLISMODO CAMPO FREUDIANO

Localização do singular naclínica dastoxicomanias: funçãodo analista

 

Convidada: ELISA ALVARENGA

Coordenação rede TyA Brasil: MARIA WILMA S. DE FARIA

 

27/11/22, das 8h45 às 16h15 - FORMATO VIRTUAL

 

INFORMAÇÕESmwilma62@gmail.com

 

 

 

Localização do singular na clínica das toxicomanias: função do analista

 

Os caminhos de investigação da rede TyA – Toxicomanias e Alcoolismo, nos convocam a continuar interrogando as soluções paradoxais encontrada por alguns sujeitos em sua relação com seu modo de gozar. A eleição de um objeto – droga – colocado no posto de comando orienta uma trajetória subjetiva.

 

No III Colóquio Internacional de TyA, ocorrido em maio desse ano, examinamos a relação entre toxicomania e inconsciente, se poderíamos falar de abertura ou rechaço. Da prática com toxicômanos na Europa e na América, pudemos extrair delineamentos importantes que se desdobram agora, em outras proposições: quais as condições possíveis do ato para o analista? Qual a premissa que fundamenta nossa prática em relação às toxicomanias? Como recolher um efeito propriamente analítico nas toxicomanias que se distancia de outras práticas com a palavra?

 

Extraímos dos diversos casos clínicos debatidos no Colóquio, que o analista é aquele que constata e certifica algo do insuportável, apostando no x que permanece, muitas vezes, opaco para o sujeito.  Em outras palavras, a aposta é no real onde o analista entra nessa partida, como agente. Como nos diz Lacan: “Não é de modo algum do analista que depende o advento do real. O analista tem por missão contrariá-lo”. [1]

 

Dessa relação entre o lugar do analista e o real, como promover na repetição do excesso, uma localização do singular? Como contrariar o real na clínica das toxicomanias?

 

Seria na perspectiva de que “a presença do analista é passível de dar corpo ao inconsciente real, ao que está fora da transferência. Dessa forma, o analista se faz presente como aquele que perturba a defesa, um intruso, um sinthoma, uma ajuda contra”?[2]

 

A prática orientada para o real se desloca da dimensão do recalque-sintoma, própria ao inconsciente regido pela estruturação significante que participa da defesa contra o real, não apenas pela substituição, deslocamento e metáfora, mas, sobretudo, pela mentira[3], para colocar a ênfase sobre a defesa.

 

Nessa direção, Miller[4] propõe que a experiência de uma análise deve ser o revés da interpretação do inconsciente, ou melhor, o revés do delírio de sentido do inconsciente. Nessa operação, “a tarefa do analista, o efeito de seu ato, poderia ser qualificado de perturbar a defesa[5] do real. Nessa prática pós-interpretativa, compete ao analista se desprender dos efeitos de sentido e de verdade, para apontar um mais além, a fixidez do gozo, o gozo do Um.

 

Podemos sustentar essa hipótese em relação às toxicomanias, uma vez que o inconsciente real se apresenta de início? Na medida em que o impossível está colocado logo de cara e onde está em evidência uma resposta não sintomatizada que pretende anular a divisão do sujeito, marca de uma posição subjetiva que se caracteriza por um “não quer saber nada do inconsciente?”[6]

 

Será necessário “dar um passo atrás, inicialmente, fazer o sujeito entrar, minimamente no discurso, estabelecer algum tipo de laço (…)”[7] para “fazer o sujeito acreditar em um sintoma que não se decifra, mas se constrói”?[8] Como podemos pensar essa posição do analista na clínica das toxicomanias?

 

São essas linhas de investigação e pesquisa que estão abertas ao trabalho.

 

Esperamos trabalhos preferencialmente coletivos até o dia 29/10/22 com até 5.000 caracteres, fonte Times New Roman, com espaço, não incluídas as referências.

 

[1] LACAN, J. – A Terceira, Opção Lacaniana 62, p 20

[2] SOUTO, S. O analista presente no espaço de um lapso? Boletim Punctum nº 2. Encontro Brasileiro do Campo Freudiano 2022.

[3] LACAN, J. (1959-60). O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise. 2a. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, p. 94.

[4] MILLER, Jacques-Allain. Perturbar la defesa. In: La experiencia de lo real en la cura psicoanalítica. Buenos Aires: Paidós. 2003. p. 35.

[5] Idem.

[6] FREDA, Francisco Hugo; MILLER, Jacques-Allain; LAURENT, Éric. La secta y la globalización. In: MILLER, Jacques-Allain; LAURENT, Éric. El otro que no existe y sus comitês de ética. Buenos Aires: Paidós. 2005. p. 303-324.

[7] KATO, M. C. R.  – Fazer falar um corpo que quer calar. In: Tratamento Possível das toxicomanias…com Lacan. Belo Horizonte: Scriptum, 2014.

[8] LAURENT, D. Viver a pulsão na transferência. In HARARI, A. (Org) A ordem simbólica no século XXI – não é mais do era: quais as consequências para o tratamento? Rio de Janeiro: AMP / Subversos, 2013. Apud KATO, M. C. R.  – Fazer falar um corpo que quer calar. In: Tratamento Possível das toxicomanias…com Lacan. Belo Horizonte: Scriptum, 2014.