II COEAN - Congresso Online de Educação Alimentar e Nutricional

Autores:
Mariana Oliveira Iamamoto
Mônica Yamada
João Paulo Pucciariello Perez
Paloma Cardoso Mendes
Nicole Rosalina Masceno da Silva
Juliana Bravo Guerrero

Objetivos: Apresentar os conceitos de culinária doméstica e de autonomia culinária; Refletir sobre as possibilidades de uso da websérie “Cidinha dá jeito” para Promoção da Alimentação Adequada e Saudável.

Justificativa: Visando ao desenvolvimento de uma estratégia de comunicação virtual acessível para incentivar e orientar a população sobre habilidades culinárias domésticas promotoras da alimentação saudável, foi elaborada a websérie “Cidinha dá jeito”, disponível em canal no YouTube com o mesmo nome e compartilhada no Facebook e no Instagram (@cidinhadajeito). Ela é fruto de projeto de pesquisa realizado por um consórcio de universidades (UERJ, UFRJ-sede, UFRJ-Macaé e NUPENS/USP) com financiamento do CNPq, por meio de edital CGAN-MS/CNPq. A websérie aborda a culinária doméstica de forma pioneira e utiliza estratégia comunicacional com potencial de amplo alcance junto ao público de interesse, seja pela plataforma escolhida, seja pelo conteúdo e pela linguagem adotada nos episódios. Ela também é pioneira em relação à acessibilidade, pois contém recursos de audiodescrição, Língua Brasileira de Sinais (Libras) e legenda para surdos e ensurdecidos em todos os seus episódios. É composta por 21 episódios, com duração de três a sete minutos. Em cada um deles, Cidinha - uma youtuber fictícia, mulher negra, trabalhadora, de classe média baixa, casada, mãe de dois filhos, com idade de aproximadamente 35 anos - apresenta questões cotidianas relacionadas ao preparo das refeições. O amplo escopo temático da websérie cobre desde sugestões de como organizar as compras e preparar as refeições até reflexões sobre racismo e relações de gênero na divisão das tarefas do domicílio. Dessa forma, contribui para materializar as recomendações do Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas e dos Guias Alimentares brasileiros, que apontam a culinária doméstica como prática emancipatória promotora do cuidado e da alimentação saudável.

OBJETIVOS

- Introduzir a importância do lúdico através das interações e brincadeiras nas ações de EAN junto às crianças e aos adolescentes;

- Capacitar os participantes no desenvolvimento de planos de aula com crianças e adolescentes;

- Fomentar a articulação de saberes do campo da Alimentação e Nutrição junto a temas de trabalho pedagógico com crianças e adolescentes (Temas de Pesquisa).

JUSTIFICATIVA

O principal objetivo das ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) é promover hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis, no contexto da Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2012). Além disso, o ambiente escolar é o espaço privilegiado para fomento de práticas educativas que tomem o alimento e a alimentação como objetos de ensino-aprendizagem nas diferentes fases da vida escolar. Nesse contexto, compreendem-se as crianças como sujeitos históricos e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivenciam, constroem suas identidades pessoais e coletivas, brincam, imaginam, fantasiam, desejam, aprendem, observam, experimentam, narram, questionam e constroem sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2010).

Agora, tratando-se da educação das juventudes, a mesma deve “proporcionar experiências e processos que lhes garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o enfrentamento dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a tomada de decisões éticas e fundamentadas. O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que se sintam estimulados a equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais –, abrindo-se criativamente para o novo” (BRASIL, 2019).

Diante disso, considerando o contexto da Alimentação e Nutrição, o desenvolvimento de ações de EAN com abordagens lúdicas e problematizadoras, de acordo com essas fases da vida, torna-se fundamental, haja vista a inerente capacidade de crianças e adolescentes para criar e imaginar, pensar e se expressar. Assim, pensando no fortalecimento das ações EAN com esses grupos nos ambientes escolares, o LEAN/UFRN propõe para a 2ª edição do COEAN a “Oficina recrEANdo”.

Nos últimos anos, o LEAN vem trabalhando em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e com o Núcleo de Educação da Infância, um colégio de aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (NEI – CAp/UFRN). O NEI desenvolve, desde a década de 1980, o Tema de Pesquisas, um método na educação de crianças que articula três dimensões básicas: o conhecimento das áreas de conteúdo disponível; o contexto sociocultural das crianças, ou suas realidades imediatas; e os aspectos vinculados diretamente ao processo de aprendizagem (RÊGO, 1999).

A rigor, o tema gerador, nomenclatura consagrada em Paulo Freire (2009) para captar e compreender a realidade, foi apropriado para ser desenvolvido nos cenários de vivências e aprendizados na educação com crianças, utilizada pelo NEI com o nome de Tema de Pesquisa. Desde então temos acumulado um trabalho baseado no método ativo da Pedagogia de Projetos

(HERNANDEZ, VENTURA, 2008), visando despertar no educando da Nutrição a mobilização de aspectos cognitivos, afetivos e motivacionais, promovendo, por meio da ação-reflexão-ação junto à realidade, práxis no campo da Educação Infantil (JORGE et al, 2022). Isso vem ocorrendo a partir do processo de “diagnóstico educativo” (BOOG, 2013) e do levantamento dos Temas de Pesquisa do NEI, e Ações de Ensino no IFRN, culminando em planejamentos de aula com temas de EAN contextualizados e significativos.

Dessa forma ao incorporar fundamentos freireanos na intersecção dos campos da Educação Infantil, do Ensino Médio e da Educação Alimentar e Nutricional, pretende-se nesta Oficina capacitar os participantes para a promoção dos eixos estruturantes das práticas pedagógicas na educação de crianças e adolescentes, que são as interações e as brincadeiras (BRASIL, 2019), articulando-os a Temas de Pesquisa e Ações de Ensino junto aos conteúdos (conceitos, procedimentos e atitudes) do campo da Alimentação e Nutrição.

OBJETIVO

 Estimular uma aproximação entre ciência e arte, tendo a bioquímica como elo mediador.

JUSTIFCATIVA

Dentre os diversos componentes curriculares dos cursos de graduação em saúde encontra-se a bioquímica que, apesar de relevante e apresentada de forma organizada nos currículos tradicionais desses cursos, comumente é definida pelos alunos como uma coleção de estruturas químicas e reações, dificilmente assimiladas e desintegradas de sua prática profissional, condição que contribui para o frequente desinteresse pela matéria. Nesse sentido, a busca por estratégias educativas que propiciem um olhar mais lúdico e integrado dos diferentes saberes, e que ao mesmo tempo aproxime a teoria da prática se faz necessária.

Contudo, tão importante quanto o saber técnico-científico, são as competências e habilidades gerais que devem ser trabalhadas simultaneamente pelo acadêmico de nutrição durante sua formação, conforme dispostas nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Nutrição (DCNs, 2001), a exemplo do artigo 4°, inciso III, onde se encontra a Comunicação, que “envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação”.

Ainda que a escrita esteja contemplada na referida diretriz, comumente ela é trabalhada de maneira engessada, sendo exigida especialmente em atividades avaliativas, possibilitando um espaço bastante limitado para o acadêmico aprimorar sua própria forma de se expressar por meio da palavra. Sendo assim, a forma como o conhecimento é compartilhado, ou seja, o tipo de linguagem utilizado, pode propiciar uma aproximação ou distanciamento entre professor, aluno e disciplina (MOJE, 1995).

Nesse sentido, a escrita abre espaço para o pensar, para o ir além da sala de aula, estimulando o aluno a refletir sobre o conteúdo, ao mesmo tempo em que se estimula sua sensibilidade e criatividade e, desta forma, amplia-se sua perspectiva sobre o saber. Se por um lado o ato de escrever é uma possibilidade de comunicação entre pessoas, por outro, muitas vezes há um abismo entre a leitura e a real compreensão do que se está escrito, a exemplo do que ocorre frequentemente com conteúdos bioquímicos.

Sendo assim, a utilização de recursos educacionais complementares, como a criação de materiais educativos que se apropriem de uma escrita lúdica, criativa, palatável e ilustrada, pode ser eficaz, conforme previamente reportado por nosso grupo (MENDES et al., 2017). Ademais, tais materiais podem propiciar um espaço de maior aproximação entre ciência e arte, sendo essa a proposta de execução da presente proposta

Objetivos: 
A juventude se caracteriza como um momento oportuno para a problematização de questões referentes ao universo da alimentação sob diversas lentes e perspectivas, considerando seus interesses, linguagens e singularidades. Sendo assim, o objetivo dessa oficina é dialogar, especialmente com juventudes (18 a 29 anos), sobre a publicidade de alimentos no mundo contemporâneo sob a lente dos princípios do Marco de Educação Alimentar e Nutricional.

Metodologia: 
Serão adotadas metodologias ativas, em especial elementos da pedagogia de Paulo Freire, como a dialogicidade, a problematização e a construção coletiva de saberes. Plataformas online (Mentimeter e Google Jamboard) serão utilizadas como um recurso de apoio para a interação, por meio das quais os participantes poderão se expressar sobre os temas de diversas formas (palavras, fotos, desenhos, vídeos, etc) e de maneira anônima, se assim desejarem. Além disso, haverá espaço de fala para os participantes que se sentirem à vontade para dialogar utilizando microfone e câmera.

OBJETIVO

Discutir e analisar as contribuições do Marco de Referência de EAN para a população negra, sob uma Afroperspectiva, e apresentar possíveis direcionamentos para sua revisão.

JUSTIFICATIVA

O Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) tem o objetivo de promover um campo comum de reflexão e orientação da prática, no conjunto de iniciativas de EAN que tenham origem, principalmente, na ação pública, e que contemple os diversos setores vinculados ao processo de produção, distribuição, abastecimento e consumo de alimentos. A EAN tem sido considerada uma estratégia para o enfrentamento dos problemas alimentares que existem na sociedade brasileira, como as doenças crônicas não transmissíveis e as deficiências nutricionais. Além disso, busca a valorização das diferentes expressões da cultura alimentar, o fortalecimento de hábitos regionais, a redução do desperdício de alimentos, a promoção do consumo sustentável e da alimentação saudável.

Considerando que o Brasil é um país que reproduz continuamente o racismo, seja na política, na cultura ou na economia, sendo possível observar as consequências da desigualdade racial no campo da segurança alimentar e nutricional, a população negra é a que mais sofre com a insegurança alimentar no país. Ademais é uma população vulnerabilizada socialmente nos aspectos socioeconômicos, como consequência geracional do racismo institucional.

Mudanças em diferentes aspectos da vida (produção do conhecimento, representação política e intelectual, políticas públicas equânimes etc.) tem sido reivindicada pelos movimentos sociais, dentre estes, o movimento negro, no que tange às diferentes dimensões do racismo em nossa sociedade, racismo esse que perpassa todas as áreas, inclusive da saúde, e aqui especificamente da nutrição. Nesse sentido, é notável a necessidade de refletir sobre as bases que têm se construído no campo da EAN. Para uma EAN que promova o Direito Humano à Alimentação Adequada, é necessário agregar em suas bases discursivas os pontos imprescindíveis para que os diferentes povos, especialmente a população negra, a população mais atingida pela fome, sejam ativos no processo de EAN que é desenvolvido em diferentes campos. Após 10 anos do marco é possível pensar em contribuições relevantes para que este reflita o tempo presente e se junte à luta por políticas públicas equânimes e antirracistas.

Nesse aspecto pode-se, a partir da afroperspectiva, influenciar a produção do conhecimento na área de EAN. A produção em afroperspectiva é aquela que considera o conhecimento produzido por africanos e afro-brasileiros. Diante do racismo epistêmico, ou seja, da marginalização e do apagamento do que é produzido por pessoas negras, a afroperspectividade tem como uma das dimensões a localização de negros e negras como também integrantes da centralidade de experiências, perspectivas e referenciais no desenvolvimento de atividades.

Pensando que a alimentação reflete a complexidade da nossa vida em sociedade e que no Brasil existem os diferentes povos, se a EAN deve gerar autonomia, respeitar tradições e legitimar os diferentes saberes, um marco referencial sem a contribuição dos principais grupos que formam o Brasil, como os indígenas, os quilombolas, a população periférica, não parece ser uma referência ideal para trabalhar com esses e outros grupos. Nesse sentido, o Marco de EAN para políticas públicas pode ganhar muito com a inclusão de referências de autores negros e negras: gerar subsídios para enriquecer o debate sobre a educação alimentar e nutricional; ter a contribuição dos diferentes povos para a garantia da SAN; conseguir que a população se reconheça mais nas ações de EAN; somar na luta contra o racismo institucional.