A partir dos conceitos de discurso e ideologia (ORLANDI, 2009), memória discursiva (PÊCHOUX, 1999), memória coletiva (HALBWACHS, 1990), representação social (MOSCOVICI, 2003), identidade cultural (PESAVENTO, 2005) e lugar (CARLOS, 2007), nossa aula vai discutir como a imprensa pode construir um dizer sobre uma cidade, alinhando-se e assumindo um projeto de uma elite (BOTTOMORE, 1974). A respeito da imprensa, entendemos que os textos por ela produzidos e veiculados envolvem o intelectual jornalista, mas também os editores e a própria empresa como agentes enunciadores do contexto social, da conjuntura e da cultura (MELO, 2003), não raras vezes em conformidade com a elite econômica e política das diferentes épocas. Nosso estudo de caso vai tomar o discurso da imprensa de Campos dos Goytacazes-RJ sobre a cidade em três ocasiões relacionadas: a inauguração, em 1916, de um conjunto de obras sanitárias e urbanísticas batizado de Melhoramentos de Campos; o cinquentenário dessas obras, em 1966, e seu centenário, em 2016. Essas obras foram financiadas com o imposto do açúcar produzido pelos usineiros locais e tinham como objetivo conferir à cidade modernizações e condições paisagísticas compatíveis com o que se considerava ser a importância da cidade para o cenário regional, estadual e nacional à época. Os jornais, os sites de notícias e as lideranças intelectuais, econômicas e políticas, nas sequências discursivas coletadas, mostraram-se agentes de representações de uma Campos moderna, distinta e vocacionada a grandes posições – o que concluímos ser, ao fim e ao cabo, um projeto de poder. Em anexo, dois artigos ajudam a consolidar esta apresentação.